“Friend-shoring” e a nova geografia do comércio internacional

Por muito tempo, a lógica dominante do comex foi simples: produzir onde é mais barato e vender onde é mais caro.

Esse modelo, que marcou o auge do offshoring, deu origem a cadeias de suprimento longas, eficientes e profundamente interdependentes. Mas, na última década, essa engrenagem começou a ranger.

Eventos como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia e até os conflitos no Oriente Médio e Mar do Sul da China expuseram uma fragilidade que o mundo preferia ignorar: a dependência excessiva de poucos polos produtivos.

O resultado? Um redesenho discreto e estratégico da geografia do comércio internacional.

O que é o friend-shoring (e por que ele importa)

O termo friend-shoring vem ganhando espaço nos discursos de economistas e líderes, especialmente após ser citado pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, em 2022.

A ideia é simples, mas com potencial de transformar profundamente o comércio internacional: “deslocar cadeias produtivas para países considerados amigos, politicamente alinhados, estáveis e previsíveis.”

Não se trata de “encerrar a globalização”, isso sequer seria possível, mas de redefini-la sob critérios de confiança e segurança.

Em vez de depender de um único fornecedor em um país instável, empresas buscam diversificar origens e estreitar laços com nações parceiras.

Esse movimento está moldando novas redes de comércio baseadas em afinidade política, tratados regionais e acordos de livre comércio mais seletivos.

Por trás da estratégia: segurança de abastecimento e mitigação de riscos

A lógica do friend-shoring é, acima de tudo, uma estratégia de resiliência.

Empresas e governos perceberam que a busca cega por menor custo expôs vulnerabilidades profundas, especialmente em setores críticos como:

  • Tecnologia e semicondutores (com a dependência de Taiwan e China);
  • Energia (com o reposicionamento após sanções à Rússia);
  • Saúde e farmacêuticos (com gargalos durante a pandemia);
  • Materiais estratégicos (como lítio, níquel e terras raras).

O novo mapa de suprimentos privilegia redundância, previsibilidade e governança, três palavras que, até pouco tempo atrás, eram vistas como “custos extras” e agora se tornaram vantagens competitivas praticamente inegociáveis.

Os impactos logísticos: redes mais curtas, múltiplas origens e mais inteligência

Do ponto de vista da logística, o friend-shoring provoca uma verdadeira mudança de paradigma. Se antes o desafio era otimizar grandes rotas globais e portos congestionados, agora o foco está em:

  • Criar novas combinações de rotas e modais;
  • Estabelecer parcerias regionais estratégicas;
  • E desenvolver soluções de visibilidade e controle em tempo real.

Para os agentes de cargas e operadores logísticos, isso significa atuar menos como intermediários e mais como consultores estratégicos, capazes de analisar cenários geopolíticos, avaliar riscos e desenhar cadeias de suprimento sob medida para cada cliente.

O transporte internacional deixa de ser apenas operacional e passa a ser inteligente, adaptável e preventivo.

O papel (e a oportunidade) do Brasil

O Brasil se encontra em uma posição singular dentro desse novo contexto:

  • É uma democracia, com recursos naturais abundantes;
  • Está geograficamente afastado de zonas de conflito;
  • E mantém boas relações diplomáticas com potências ocidentais e asiáticas.

Isso coloca o país como alternativa estratégica para friend-shoring, especialmente em setores como agronegócio, mineração, biotecnologia e energias renováveis.

Empresas estrangeiras têm buscado diversificar suas cadeias com fornecedores latino-americanos, e o Brasil, com sua estrutura industrial e portuária, pode capturar parte significativa desse movimento, desde que invista em infraestrutura logística, previsibilidade regulatória e competitividade aduaneira.

Como a Cerklog se insere nesse cenário

Em um contexto em transformação, a Cerklog atua como tradutora entre o cenário macroeconômico e a realidade logística de cada cliente.

Isso significa acompanhar variações cambiais, mapear rotas alternativas, antecipar gargalos e oferecer previsibilidade em meio à volatilidade.

Mais do que transportar cargas, a Cerklog ajuda empresas a reposicionar suas cadeias de suprimento, conectando parceiros confiáveis e otimizando custos com base em inteligência de mercado.

Em outras palavras: a logística é o elo que transforma geopolítica em competitividade.

O friend-shoring não é uma ruptura, mas uma evolução. O mundo segue globalizado, porém com novos critérios de confiança e alianças mais seletivas. Nesse cenário, o conhecimento logístico passa a ser um ativo estratégico.

Empresas que compreendem a nova geografia do comércio internacional estarão mais preparadas. E é exatamente aí que a Cerklog quer estar: no centro da transformação que conecta países amigos, cadeias inteligentes e negócios sustentáveis.